sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Santa Casa do Pará realiza primeiro transplante renal pediátrico

Instituição da rede pública de saúde é a única credenciada na região Norte para procedimentos em crianças de baixo peso
05/12/2019 20h41 - Atualizada hoje 11h45
Por Dayane Baía (SECOM)
A equipe médica e assistencial da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará realizou o primeiro transplante de rins em paciente pediátrico, em novembro deste ano. Em agosto, a instituição foi credenciada pelo Ministério da Saúde a oferecer a opção dialítica para pacientes pediátricos pesando a partir de 15 quilos, que antes só era possível em tratamento fora de domicílio. Com a habilitação, a entidade passa a oferecer atendimento ainda mais integrado ao Serviço de Terapia Renal Substitutiva Pediátrica, que já é referência no Estado e dá suporte a cerca de 40 crianças que estão na fila de espera por doação.
A primeira paciente a passar pelo procedimento foi Samile Ribeiro Caxias Moraes, 11 anos, que recebeu o órgão da própria mãe, Sueli Ribeiro Caxias Moraes, 42 anos. A criança foi diagnosticada com câncer nos dois rins e precisou retirar os órgãos aos 5 anos de idade. Em todo esse tempo, permaneceu dependente de hemodiálise, realizou tratamento oncológico e, após a cura do câncer, foi liberada pela equipe médica para o transplante.
A cirurgia de retirada dos rins de Samile Moraes foi realizada pela mesma equipe que implantou o novo órgão, liderada pelo cirurgião pediátrico Eduardo Amoras Gonçalves. ”Essa criança premia a nossa trajetória ao longo de 2019, em que estávamos com o propósito direcionado de habilitar o transplante renal. É uma paciente muito especial, porque precisou da cirurgia radical e passou por muitas sessões de quimioterapia e radioterapia, até ficar fora de tratamento. Ela não tem mais doença neoplásica maligna. Vários testes foram feitos, a mãe se enquadrou no perfil de compatibilidade. É uma vitoriosa. A história por si só fala. Vir ao hospital em dias alternados restringe as possibilidades de brincar e interagir com outras crianças. Ela venceu um câncer severo. A mãe ajudou a criança a passar por todo o tratamento com uma cabeça muito boa. É uma família vencedora, e isso deixa a gente mais feliz ainda”, afirmou Eduardo Amoras Gonçalves.
Transplante - Para o transplante intervivos foram necessários dois procedimentos simultâneos, que mobilizaram cerca de 30 profissionais em mais de quatro horas de duração. Mãe e filha foram juntas para o bloco cirúrgico, mas ficaram em salas separadas. Por lei, a equipe que retira o órgão de um corpo não pode ser a mesma que o implanta em outro.
De acordo com a nefrologista pediátrica Monick Calandrini Rodrigues, coordenadora do Serviço, houve toda uma preparação técnica, burocrática e clínica para a realização do transplante. “Já viemos com uma experiência anterior. A equipe e as pacientes estavam bem preparadas. Tínhamos a segurança de que o transplante estava ocorrendo no melhor momento para a paciente, para equipe e para a instituição”, assegurou a médica.
A evolução foi dentro do esperado no caso de doador vivo. Desde o bloco cirúrgico, o rim doado já estava funcionando no corpo de Samile, indicando que o procedimento estava dando certo. Em seguida, mãe e filha receberam cuidados nas unidades de Terapia Intensiva. Com o passar dos dias, e a plena recuperação, Sueli recebeu alta médica e voltou ao hospital apenas para visitar a filha, que passou a ser acompanhada pelo pai, Márcio Mendonça Moraes.
Ele, que ficou acompanhando Samile, agradeceu o fim da longa batalha. “Foi difícil, mas com Deus tudo é possível. Eu creio que quando uma família entra num processo como esse até os laços de união ficam melhores. A gente acaba valorizando mais a família, a esposa, os filhos. A gente entende que tem que valorizar a vida e as pessoas ao nosso lado. Espero que ela tenha cada dia mais êxito e possa fazer o que gosta. Às vezes, ela estudava só duas vezes por semana, mesmo assim tirava boas notas. Agora, creio que vai ter mais tempo para a escola, para os priminhos e amiguinhos”, disse Márcio Moraes.
O pai da menina também fez questão de destacar o atendimento recebido na Santa Casa.
“Eu só quero agradecer primeiramente a Deus e à qualificação dos médicos, pela equipe que tem trabalhado. A gente vê o cuidado com as crianças desde a hemodiálise. Várias vezes eu acompanhei a forma como a equipe técnica trabalha com os pacientes e, acima de tudo, dão força aos pais, motivando-os a superar aquele momento. São pessoas que Deus colocou na Terra para ajudar as outras. Que Ele continue abençoando essa equipe e a Santa Casa” - Márcio Moraes, pai da menina Samile.
Saga familiar - Já em recuperação pós-cirúrgica, mãe e filha comemoraram o sucesso do procedimento. “Eu só tenho a agradecer a Deus. Sem Ele a gente não teria chegado até aqui. Agradeço também à equipe médica que nos acolheu por 5 anos e 8 meses em que ela fez diálise. Aqui, a gente encontrou apoio dos médicos, uma equipe maravilhosa. Todos, até o pessoal da limpeza. Foram tantas restrições, altos e baixo que passamos, uma história bem difícil desde a descoberta do CA, as primeiras hemodiálises, UTI. São coisas que marcam muito a vida da gente. Ela é uma menina muito forte, sempre assim, calma. Isso também encorajava a gente a continuar a lutar. Ela e o irmão são dois presentes de Deus para mim, e eu vou cuidar, fazer tudo o que for possível por eles. Se fosse preciso, doava de novo”, garantiu Sueli, tomada pela emoção.
Samile não vê a hora de encontrar com o irmão caçula, que por conta da imunossupressão ainda não pôde visitá-la. “Eu vou dar um abraço nele, estou com muita saudade”, disse a menina. “Para mim é uma nova vida. Eu não vou mais acordar cedo para ir para a diálise, não terei mais restrição de beber água e posso fazer xixi agora. Mudou muita coisa. Eu quero agradecer a minha mãe por tudo. Primeiro, porque me deu a vida, me aguentou por nove meses na barriga, e agora por ter dado o rim para mim. Isso é muito significativo. É muito amor”, disse a menina com a voz embargada, provocando lágrimas em todos a sua volta.
A mãe não poupou elogios à criança, e destacou que a menina precisou amadurecer rápido durante o tratamento. Muito responsável, apesar da idade, Samile também era cuidadosa e compreensiva com as restrições.
“Se oferecessem mais do que a quantidade de água que podia tomar, ela não tomava. Ela sabia os nomes de todas as medicações. O cateter durou mais de quatro anos, um período que muitas crianças não conseguem manter. Tudo isso mostra a responsabilidade dela. Eu saía para trabalhar e ela sempre tomou conta de si, direitinho. Claro que com um adulto por perto, mas ela sempre foi muito responsável” - Sueli Moraes, mãe de Samile, que é servidora pública na Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna.
De acordo com a nefropediatra Monick Calandrini Rodrigues, Samile tinha uma creatinina, exame que mostra a função renal, de 12. No adulto, essa taxa varia de 0,8 a 1,3. No terceiro dia após o transplante, a taxa a menina já era 0,9, e agora 0,6, que é de uma criança normal. Ela também está urinando de 2 a 3 litros por dia. “Estamos muito felizes e otimistas. Ela deve receber alta e seguir no acompanhamento ambulatorial, primeiro semanalmente, e depois quinzenalmente. Depois passa por avaliações mensais e tomando as medicações. Estamos gratos a Deus e a todos que tornaram isso possível”, reforçou a nefropediatra.
Pioneirismo - O cirurgião vascular Silvestre Savino, que também participou do transplante, ressaltou o pioneirismo da Santa Casa. “As crianças com baixo peso, a partir de 15 quilos, vão passar a fazer o procedimento aqui. No Brasil, existem poucos centros transplantadores para esse perfil. A criação do Serviço abre uma perspectiva de o Pará se tornar um polo regional, atendendo não apenas as cidades paraenses, mas outros estados da região Norte. O governo do Estado, ao investir em um projeto como esse, eleva a qualidade do atendimento na Santa Casa e cria perspectivas de melhoria da saúde no Pará”, afirmou o cirurgião.
O presidente da Fundação Santa Casa, Bruno Carmona, acredita que a implantação do procedimento fecha o ciclo da terapia renal substitutiva. “A criança que precisa de transplante tem um baixo ganho de peso. É difícil chegar em 15 quilos. Assim, passamos a atender a população sem precisar tratar fora de domicílio, agora que temos a parte legal e técnica funcionando perfeitamente”, assegurou Bruno Carmona.
A equipe de enfermeiros começou a ser treinada há dois anos para que fosse solicitado o credenciamento. “Nós passávamos uma semana por mês no Hospital Samaritano, em São Paulo (SP), durante um ano, fazendo o aprimoramento. Ficávamos diretamente com a equipe de transplante nas cirurgias, nos ambulatórios e em estudos contínuos, com simulações realísticas de intercorrências, do preparo do receptor e do doador. Nós estamos sempre buscando o melhor para o paciente. Vamos dar mais qualidade de vida para essa criança. Ela vai poder ser criança. Vai poder estudar, brincar, ficar no leito familiar, fazendo o que ela sempre quis na vida, que é ser criança”, ressaltou Adriana Sueli Benjamin, enfermeira especializada em Nefrologia.
Após a qualificação da equipe técnica foi realizada a compra de insumos, como imunossupressores, equipamentos cirúrgicos específicos, toda a logística voltada para o tratamento, que precisa ocorrer dentro dos parâmetros legais.
“Houve um grande empenho do governo do Estado, da Secretaria de Saúde Pública, para levar à frente esse credenciamento, com a complementação do custo do tratamento. Fora o ganho financeiro, há um ganho sem tamanho para a população, que pode contar com o tratamento próximo do seu seio familiar”, Bruno Carmona, presidente da Fundação Santa Casa.
A instituição faz todo o acompanhamento das crianças antes mesmo da confirmação da insuficiência renal crônica - quando ela possui o risco a desenvolver a doença. “Se detectamos previamente quando a função está chegando ao limite, podemos indicar o transplante preemptivo, ou seja, antes de entrar em hemodiálise. Uma vez transplantada, ela permanece conosco no acompanhamento ambulatorial para o resto da vida”, explicou Monick Calandrini Rodrigues.
A estrutura, segurança e qualidade do procedimento estão garantidas. Mas para as crianças que estão em fila de espera ainda há um desafio a enfrentar. “As campanhas de doação de órgãos por pessoas em morte cerebral precisam ser reforçadas, sempre. Em um ato máximo de solidariedade, elas podem deixar registrado para a família que desejam ser doadoras”, finalizou Bruno Carmona.
Fonte: www.agenciapara.com.br

Um comentário:

  1. doc james
    Olá, meu nome é Dr. James Henry, do Hospital Universitário da Universidade de Benin, sou especialista em cirurgia de órgãos e compra de órgãos humanos que eles desejam vender, e estamos localizados na Nigéria, EUA e Malásia, mas nossa sede está na Nigéria. Você está interessado em vender seu rim ou vender qualquer parte do seu órgão corporal Entre em contato conosco para obter mais informações. Entre em contato conosco através
    E-mail: jameshenryhome@gmail.com
    whatsapp: +2348110133466
    Esperando ouvir de você.
    Felicidades,
    Dr. james
    CEO
    HOSPITAL UNIVERSIDAD DE BENIN DE ENSEÑANZA.

    ResponderExcluir

Autismo: entenda os impactos do diagnóstico tardio em adultos Dificuldades de convivência e poucos relacionamentos

Paula Laboissière – Repórter da Agência Brasil Publicado em 02/04/2025 - 13:57 Brasília Desde que pode se lembrar, a nutricionista Bea...