Estudo está disponível para receber contribuições
da sociedade
Publicado em 03/12/2019 - 15:07
Por Letycia Bond - Repórter da Agência Brasil São
Paulo
De forma geral, tanto em escolas privadas como na rede pública de
ensino, o que se constata é que a inovação pedagógica se apresenta em estágio
básico, em termos de incorporação de tecnologia. É o que conclui a pesquisa
Avaliação das Práticas Educacionais Inovadoras (Apei) 50, divulgada hoje (3),
pelo Instituto Crescer.
O nome do levantamento faz alusão aos 50 indicadores, com pontuação de 0
a 4, que permitiram avaliar, com amplitude, aspectos inerentes ao ambiente
escolar. Trata-se de um conjunto de questões que variam da disposição dos
professores em incorporar recursos tecnológicos às aulas à inclinação dos
estudantes de pedir ajuda a eles, ao se deparar com situações potencialmente perigosas
na internet. Ao todo, foram ouvidos 5.411 professores, provenientes de 317
escolas espalhadas pelo país.
Os responsáveis pelo estudo, que agora está aberto a contribuições da
sociedade e que deve ser apresentado ao Ministério da Educação (MEC), destacam
informações que demonstram assimetrias entre os colégios particulares e
públicos. Um exemplo é o nível de autonomia para uso da internet para fins
pedagógicos, que, na rede privada obteve a pontuação de 3,2 e na rede pública,
de 1,92.
Estabelecer como tarefa de casa que os alunos coletem informações da
internet, a fim de escrever artigos é algo bastante comum, atualmente. Como no
mundo offline a atividade envolvia, exclusivamente, uma busca
em livros, o ideal seria que os professores orientassem os alunos sobre a forma
correta de pesquisarem aquilo que desejam em websites. Isso os
estimularia a recorrer a sítios eletrônicos confiáveis, a identificar fake
news e a compreender o que significa plágio de conteúdo.
O estudo do instituto, porém, mostra que somente parte das turmas está
recebendo essa orientação obre metodologia de pesquisa na internet. Entre
escolas públicas, a média foi de 1,65, classificada como básica. Já as
escolas particulares atingiram uma média de 2,55, considerada de nível intermediário.
Steam
Segundo a idealizadora da pesquisa, Luciana Allan, a abordagem é
"agnóstica", no sentido de não priorizar a recomendação de uma
tecnologia em detrimento de outra, mas sim entender que cada turma e
instituição poderiam se beneficiar de algo específico, conforme suas demandas.
Alguns indicadores, diz ela, ajudam a explicar, inclusive, a realidade exposta
através do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), cujos
resultados foram divulgados hoje,
pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Para a o instituto, uma política que poderia servir para melhorar o
desempenho dos alunos nas disciplinas de exatas é a chamada STEAM. De acordo
com o Instituto Crescer, apenas 11,6% dos professores declararam envolver
alunos em projetos STEAM (Ciências, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática),
em que eles têm a oportunidade de construir objetos com material concreto e
digital. Nas escolas públicas, a proporção é de 5%. Quando se considera a
parcela que o faz às vezes, as porcentagens são de 25,9% e 21,6%.
A diretora técnica do instituto também pontua que não existe, ainda, uma
cultura de os estudantes formarem comunidades digitais, por meio das quais
haveria uma facilitação na troca de conteúdos e aprendizados. Essa composição
também ficaria, inicialmente, a cargo dos professores, que, avalia ela,
deveriam fomentar esse movimento. Os dados compilados no relatório revelam que
somente 15,6% dos professores da rede pública e 27,3% da rede privada dizem se
sentir preparados para participar de comunidades virtuais de aprendizagem
ou promovê-las. Além disso, apenas 18,2% dos docentes da rede pública e
32,5% da rede privada se sentem preparados para vivenciar uma experiência como
essa.
Convidada do seminário de apresentação do relatório, a
diretora-presidente do Centro de Inovação para Educação Brasileira (Cieb),
Lucia Dellagnelo, afirma que o investimento para que as escolas disponham de
tecnologia deve ser homogeneamente distribuído. Para ela, a tecnologia deve
estar a serviço da justiça social. "Hoje, a tecnologia ainda não tá sendo
usada para diminuir essa desigualdade", defende.
A diretora-geral pedagógica do Colégio Dante Alighieri, Valdenice
Minatel, um dos mais tradicionais da capital paulista, acrescenta que é
fundamental entender como o estudante percebe a cultura digital. Segundo ela,
"a escola, por receio de se pôr à prova, não está perguntando" quais
as necessidades dos alunos. "Muita coisa está acontecendo fora da
escola."
Edição: Narjara Carvalho
Fonte:
Agência Brasil
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