Amazônia 1 será lançado na madrugada deste domingo
Publicado em 26/02/2021 - 15:10 Por Adrielen Alves - Repórter da
Radioagência Nacional - Brasília
A Agência Espacial Brasileira (AEB) está em contagem regressiva para o
lançamento do satélite Amazônia 1 que ocorre na madrugada
deste domingo (28). O satélite com produção e operação
totalmente nacional será enviado ao espaço com uma missão específica:
acompanhar de perto a Terra, em especial, a região amazônica.
O lançamento é parte da Missão Amazônia que, segundo o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), tem por objetivo monitorar áreas
desmatadas, agrícolas, além de desastres ambientais.
O satélite Amazônia 1 será lançado pela Agência Espacial Indiana, em
Sriharikota, às 1h54, no horário de Brasília. O lançamento será transmitido ao
vivo pela Agência Brasil e pela TV Brasil.
Em entrevista exclusiva à Radioagência Nacional, o presidente da
Agência Espacial Brasileira, Carlos Moura, que acompanha a comitiva na Índia,
disse que o momento é de expectativa e também de projeção do Brasil.
Radioagência Nacional: Estamos vivendo um momento astronômico com
algumas missões que buscam olhar para o universo profundo em busca de
novos planetas, novos mundos. O Amazônia 1 busca olhar para dentro, para o
planeta Terra e, em especial, para a Amazônia. Na sua avaliação, como
estas missões se complementam?
Carlos Moura: Naturalmente, ambas as missões são muito importantes.
Os sistemas espacias, os satélites que observam a Terra a partir de um ponto de
vista privilegiado, eles nos permitem conhecer melhor os nossos oceanos,
os nossos biomas, a nossa atmosfera, compreender melhor esse conjunto de
fatores fazem com que este planeta, até onde se saiba, seja o que contém as
melhores condições de vida na forma como nós a conhecemos. Entender melhor
nosso planeta é uma questão que afeta o nosso dia a dia e afeta também as
gerações futuras. Por isso, é importantíssimo para a sustentabilidade da Terra
e da humanidade.
Agora, se projetar para outros corpos celestes, tentando entender melhor
como eles evoluíram, o que acontece com eles, por exemplo, o que acontece com a
atividade solar que influencia as comunicações, os sistemas de energia na Terra
têm uma aplicação prática que já ocorre, chama meteorologia espacial, algo que
nós já estudamos no nosso dia a dia. E existem missões que procuram entender
como ocorreu a evolução de outros corpos, se houve vida ou não, se eles têm
componentes materiais que podem ser úteis para humanidade ou não. Então, é
um desbravamento. Assim, como aconteceu séculos atrás com as grandes
navegações, hoje a humanidade também se projeta rumo
a esses outros corpos celestes e para fazer isso existe uma demanda de
desenvolvimento científico e tecnológico muito forte. Esse esforço que a
humanidade faz também tem desdobramos interessantes em termos de materiais, de
comunicação, de sistemas de controle. Algo que também pode ter desdobramentos
no nosso dia a dia.
Radioagência Nacional: Como o lançamento de um satélite com
tecnologia brasileira poderá ajudar no monitoramento de áreas ambientais e no
combate ao desmatamento no país?
Moura: O satélite Amazônia 1, que é um satélite de
sensoriamento remoto óptico, vai dar autonomia para o Brasil de monitorar
melhor os seus diversos biomas, os seus mares, todos os alvos de
interesses que nós temos, porque é um satélite que estará sob domínio
completo do Brasil. É uma tecnologia que foi desenvolvida no país e
ela tem a função de complementar o que já é feito hoje com os
satélites desenvolvidos em cooperação com a China. Então, esses satélites têm
uma órbita heliossíncrona e eles vão percorrendo a superfície da Terra e vão
fazendo imagens de faixas da Terra e você tem uma atualização que demora, às
vezes, cinco dias ou até mais. Ele não tira imagens todo dia do mesmo
local. Quando você tem dois ou três satélites você tem a possibilidade de
atualizar com maior frequência as informações, inclusive naqueles locais onde
havia cobertura de nuvens e o satélite passou e não conseguiu enxergar através
das nuvens. Então, essa operação conjunta do Amazônia 1 com os outros
dois satélites vai nos dar um conjunto melhor de informações para os nossos sistemas
de monitoramento para os diversos fins, sejam ambientais, de agricultura ou de
segurança inclusive.
Radioagência Nacional: Este projeto, como destaca o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais é todo nacional, mas o Brasil tem firmado
parcerias como com a China e com a Índia, por exemplo. O que podemos esperar
para o futuro?
Moura: Sobre parcerias com outros países, nós temos, sim, a
intenção de ampliar o que nós já fazemos. Eu citaria no âmbito científico um
projeto que envolve o ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica], o Inpe, a
Nasa e universidades americanas. Temos o Itasat 2 que é uma constelação de três
satélites que envolverá uma universidade israelense, o ITA e o Inpe e
possivelmente a Nasa e outras universidades. Então, na atividade científica já
é comum os países compartilharem missões porque isso nos permite utilizar
melhor as nossas capacidades, os recursos e minimizar determinados riscos,
mas também no âmbito de aplicações, existem esforços com os países
europeus, com os americanos, os russos e japoneses. Então, isso é uma prática
comum e o Brasil pretende, sim, se inserir nisso. Nós temos dois desafios
interessantes pela frente: a sonda lunar israelense deve ser lançada em 2024 e
o programa Artemis, da Nasa, liderando a volta da humanidade à Lua. Então,
fomos convidados a participar e esperamos que encontremos um nicho que permita
também a participação da nossa ciência, nossa
tecnologia, nossa engenharia, nossa indústria.
E ainda sobre parcerias é importante mencionar que nós temos países da
América do Sul, países que estão na América Central e toda a região de
influência do Atlântico Sul. Os países africanos, afinal,
existem meios ou atividades meteorológicas, riquezas que podem e
devem ser mais bem conhecidas e mais bem exploradas por esses
países. Então, poder agregar países com ferramentas que nos
permitam conhecer melhor e fazer uma melhor gestão é muito importante. Até
para outras atividades, por exemplo, controle de ilícitos, pirataria,
uma série de dificuldades, desafios que os países enfrentam.
Se eles estiverem trabalhando de forma conjugada, o esforço fica menor
para cada um e fica mais efetivo no seu resultado. Então, a
possibilidade de desenvolver satélites de menor porte, constelações de
satélites, pegando diversas aplicações seja de observação da Terra, de
coleta de dados, satélites-radar, existe uma infinidade de aplicações que
estes sistemas espaciais podem ter e nós acreditamos
que unir ao nosso estratégico é uma perspectiva concreta e que
deve se realizar nos próximos anos.
Radioagência Nacional: Como está a expectativa de presenciar aí de
perto o lançamento desta missão?
Moura: Quanto à sensação de ver um lançamento de
satélite, é realmente emocionante porque você tem ali um veículo lançador que
pesa centenas de toneladas com muita energia concentrada e ele sair do zero e
atingir em poucos instantes velocidade de milhares de quilômetros
por hora, isso realmente é um fenômeno físico muito bonito, muito impactante.
Mas, não é só essa beleza plástica. Existe, no momento de
um lançamento desses, o coroamento de esforços que duram muitos
anos, às vezes dezenas de anos. Para alguns
profissionais é o desafio de uma carreira desde que
o sujeito se formou até agora, quando ele já está sendo o líder
de um projeto, gerente, o diretor de uma área.
Então, o Amazônia 1 coroa esse esforço do Brasil que
vem lá de 1979,1980, com a Missão Espacial Brasileira, de o país ser capaz
de desenvolver o satélite próprio de sensoriamento remoto
óptico. O Amazônia 1 cumpre este objetivo de
muitos anos atrás e ele também permite que a plataforma que está sendo
utilizada para levar essa
câmera óptica brasileira, a Plataforma Multimissão -
que foi concebida também já há bastante tempo -, que ela finalmente
voe e nós possamos testar todos os seus sistemas, ganhar maturidade
tecnológica com tudo que a compõe e que ela possa a, partir
de agora, ser utilizada em outros projetos ou ser atualizada ou modificada
para se adaptar a missões diversas que os satélites podem
cumprir. Então, eu tenho certeza de que vai ser uma satisfação muito grande
para os profissionais da Agência Espacial Brasileira, do Inpe,
os profissionais da nossa indústria e para toda a comunidade
espacial brasileira.
Radioagência Nacional: O senhor gostaria de fazer mais alguma
colocação, presidente?
Moura: Agradecemos muito a oportunidade de falar sobre o espaço,
sobre a amplitude que as atividades espaciais têm em nosso país, principalmente
em países grandes como o nosso. Países continentais só podem exercer o
controle melhor de seu território, levar políticas públicas a toda a sua
população, até lugares remotos, se ele tiver sistemas espaciais. Isso é
facilmente observado, e nós vemos que o nosso satélite geoestacionário de
comunicações, por exemplo, hoje leva internet de banda larga para
diversos lugares remotos, escolas, unidades básicas de saúde, algo que não era
pensado até pouco tempo.
O satélite de observação da Terra, já falamos das diversas missões q
eles cumprem, a nossa vigilância de fronteiras, dos mares, tudo isso precisa
destas ferramentas. Então, acreditamos que os sistemas espaciais são como uma
infraestrutura básica para o país, que permite a integração do nosso povo,
economia, educação, saúde. É para isso que trabalhamos, nós temos certeza que
esses outros satélites que estamos desenvolvendo, satélites de menor porte, com
algumas missões mais dedicadas, algumas constelações de satélites abrirão
oportunidades muito interessantes. Não apenas com os equipamentos em si, mas
com as aplicações que vão advir desses sistemas, uma vez colocados no espaço. E
temos certeza também que, com a entrada em operação comercial do Centro
Espacial de Alcântara, colocaremos o Brasil no rol de países que são capazes de
colocar objetos em órbita. Isso deve gerar uma série de desenvolvimentos
naquela região e também diversos transbordamentos para nossa indústria,
como aconteceu lá nos anos 1960 com a atividade aeronáutica
e hoje nós temas a terceira mais importante indústria aeronáutica do
mundo. Então, a gente tem esperança de que o espaço também vai reservar um
local muito importante para o nosso conhecimento, capacidade, engenharia,
ciência e essa juventude vai poder, daqui a alguns anos, usufruir muito mais e melhor
do espaço.
Edição: Denise Griesinger
Fonte:
Agência Brasil
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